" Paz das montanhas, meu alívio certo! "
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28/07/2011

Lagarinho


        Estes dias estivais convidam a trilhos mais moderados, de preferência com paragem com direito a banho. A Lírio tinha planeado mais uma ida ao poço azul, mas sinceramente não sou muito adepto de estar um dia inteiro a apanhar banhos de Sol, mesmo que seja o Sol do Gerês. Pois resolvi unir o útil ao agradável e resolvi fazer um trilho que terminasse no poço azul. Há já algum tempo que fazia intenções de explorar a zona em redor dos Bicos Altos e ir até à cabana do Lagarinho, que não conhecia. Já tinha visto este curral à distância mas os trilhos que tinha feito por aquela zona  para ir ao Lagarinho implicavam um grande desvio.

 O início do trilho já deve ser conhecido,  inicia-se no parque de estacionamento da cascata do Arado e seguindo o estradão passa-se a Malhadoura, Tribela, ponte das servas e curral do Pinhõ, aqui despedi-me do meu grupo que seguiu para o poço azul enquanto que eu segui em direcção de Pousada. Aqui o tempo começou a aquecer, e muito, estava um dia muito quente. Ao longe comecei a ouvir os latidos de um cão e vozes, afinal não era o único demente que resolvia caminhar com este calor. Ao longe avistei algumas cabras domésticas, um pastor e respectivo cão, devia ser a vezeira de cabras de Fafião em Matança. Ainda pensei em descer para trocar algumas palavras com o pastor mas depois tinha que subir mais e com este calor!! Continuei até ao curral dos Bicos Altos e contornando-os resolvi sair do trilho para melhor avistar a paisagem, céu limpo, algumas nuvens para dar consistência ao céu, estava um tempo ideal para fotografias, é pena que a minha máquina esteja a ganhar manias e às vezes deixa-me ficar mal.

Resolvi retomar o trilho que leva até ao Curral da Amarela onde almocei com direito a mesa e cadeira à sombra de um carvalho secular. Começam a despontar os primeiros crocos. A partir daqui até ao Lagarinho é um pulo, apesar de ficar a uma cota mais baixa lá consegui chegar ao curral do Lagarinho, é um curral simpático, não gostei foi do telhado de zinco, deve ser um dos poucos currais de Fafião com telhado de zinco. As vistas para o rio Fafião são fantásticas como podem ajuizar, é pena que o Fafião neste momento não leve água e as famosas piscinas naturais estejam secas, porto da Laje não tem água, e pensar que no Inverno uns colegas tiveram que retroceder passo porque o Fafião não os deixava passar, de tanta água que levava.



Resolvi seguir um trilho tradicional que parte do Lagarinho  até ao  curral da Touça, como suspeitava lá estavam as mariolas a indicar a descida. Uma das minhas intenções originais era descer até à Touça e acompanhar o percurso do rio Laço até à nascente, mas com este calor era suicídio e tinha a Lírio à minha espera no poço azul. À distância avistei o delta topográfico que era um dos objectivos secundários deste trilho. Mas era preciso subir, e muito, com calma, e devagar, metro a metro, lá se foi vencendo o declive.



Sim dou razão à White Angel é um lugar muito especial. Daqui caminhei até à nascente do rio Laço e aí desci em direcção ao Conho. Já tinha feito este trilho mas no sentido inverso, no ano passado, e tenho a informar-vos  que alguma alma caridosa construiu  algumas mariolas para indicar a descida, não é que haja dúvidas, é sempre a descer, no final refresquei-me na nascente do Conho, que bem me soube aquela água. A partir daqui o trilho é intuitivo e apesar do mato existe trilho. É só seguir o rio Conho até se atingir o poço azul. Nunca tinha visto o poço azul com tanta gente, mas lá estava o meu grupo a "trabalhar" para o bronze, eu próprio com esta caminhada estava um pouco mais tostado. A água estava gélida e tinha-me esquecido dos calções de banho!!?? Só deu para molhar as pernas, sempre é melhor que nada. Nota mental, levar para as caminhadas calções de banho.











Para finalizar e não os maçar mais só tenho a dizer que nunca tinha encontrado tanto trânsito para sair do Gerês, todos tiveram a mesma ideia e vieram para o Gerês, a banhos. Ainda bem, pode ser que este ano o Gerês consiga recupera da calamidade dos incêndios do ano passado. Oxalá.

Até à próxima.

29/06/2011

De regresso à montanha


Querida vida curta:

Regressei finalmente à terra que tanto suspirava de saudades, o meu Gerês!
Comecei por fazer um percurso curto até ao deslumbrante poço azul e mergulhar nas suas águas frescas e relaxantes. Estava rodeado de vida! Os alfaiates patinavam aos pares, encaixados, um puro prazer dos bichinhos que contornavam o meu corpo não parecendo perturbados com a minha presença.



Mas antes disso, meus pés nus começavam por dar as boas vindas às pedras graníticas que calquei e à agua fria da pequena entrada estreita de acesso ao lago. Molhei minhas pernas até meio, meus braços, refresquei minha face com sede de tudo aquilo e quando quase tocava novamente na água cristalina, pousou em uma das minhas mãos uma pequena libélula de um lindo azul metalizado e ali teimou em ficar por uns largos bons momentos!! Senti como se um cumprimento caloroso de boas vindas se tratasse!!


Uma felicidade quase completa me percorria, e neste dia enquanto saboreava a minha curta vida como ser humano que sou, outra vida tornou-se  muito curta, tão curtinha que acabou por desfalecer nos braços de minha amiga Angel.

Subiu sua alma e ficou, quem sabe, a flutuar nas nuvens que cobre o céu Geresiano, talvez a brincar nos lagos em forma de libélula ou a iluminar a noite da Serra em forma de estrela.

 Iríamos nós passado uma dúzia de dias aproximadamente ao Camalhão, cumprir o prometido, mas com um vazio corporal constantemente presente de uma cadelinha montanheira, que apesar da sua curta vida canina, foi concerteza das mais preenchidas, completas e cheias de amor!


Peço-te vida curta, que transformes a nova vida de Kelly naquilo, que considero como ser humano, impossível: Uma felicidade completa!

Assim sendo, será possível não mais a mesma sofrer, poder manter-se sempre na sua Serra do Gerês,onde tantas vezes correu saltou e se deliciou nas águas frescas dos ribeiros?! Será pedir-te muito?
 Quem sabe sob a forma de libélula ou borboleta solta com o vento onde assim será possível partilhar a sua felicidade com outros seres vivos, num ser humano, por exemplo, onde poderá pousar numa mão amigável e merecedora da sua visita, tornando essa pessoa um pouco mais alegre e feliz!!



Afinal a vida destes insectos é curta...muito curta...e tudo se repetirá de uma ou outra forma, de uma outra maneira, intensamente, neste paraíso ou inferno chamado Terra, chamado vida! Longa, pequena ou curta.


E depois de cumprido o prometido e de sentir o vento do prado do Camalhão após um belo diálogo de amizade desfrutado, despedi-me de Angel, deixando-a consigo e sua doce pessoa, perdida e encontrada na sua sempre adorada serra. Segui vale fora em passo de corrida, saltei as pedras do rio, refresquei minha cara, molhei os lábios, olhei em volta e só aí mesmo caí realmente em mim! Reparei que estava ali completamente só, num vale rodeado de montanhas, numa outra dimensão, noutro mundo...nesta vida pequena vida tão curta e preciosa, em que a maior parte das pessoas correm tanto que nem se apercebem das montanhas que as rodeiam! Procuram cegamente a riqueza monetária, sem repararem que a verdadeira riqueza nesta vida, está ao alcance de todos da forma mais simples, pura e bela riqueza!!
Continuando a percorreu aquele  precioso chão coberto de vida e rodeado da mesma, senti um enorme desejo de ali ficar, senão agora, um dia e para sempre! Ámen!

Mas por enquanto não podia, tinha amigos, família e uma Vida à minha espera!
Desci ofegadamente a encosta do Arado, de lá já se ouvia ao longe a presença da gente que por lá passa e daqueles que me esperavam. E minha serra começava a ser também absorvida por tudo aquilo, desligando-se de mim naquele momento vendo-me partir.
A partir daqui, prometi a mim mesma ficar com ela mais vezes sozinha, quando for possível, quantas as que forem possíveis nesta minha vida.

Até lá aguardarei pacientemente como uma semente  em estado lactente à espera de florir, radiar luz, cor e sorrir, vivendo ao máximo a minha curta vida de Lírio do Gerês!

30/05/2011

O delírio do Poço Azul




 
Num Gerês em que quase todos conhecem, abunda o verde, o fresco, as fontes, os ribeiros, algumas cascatas, as portas de entrada e as estradas mais frequentadas.

No Gerês que alguns conhecem, existem os trilhos marcados onde a água marca na maior parte das vezes a sua presença, onde se pode estar mais pertinho do céu.

Num Gerês de lírios, jasmins, teixos e fetos, de cabras montesas, corços e garranos, das paisagens únicas, da constante água fresca rebolando pedras, deslizando por corgas onde se escondem verdadeiros oásis dentro de um oásis! Locais onde egoísticamente falando, poucos frequentam e ainda bem, para o bem  de  todos nós e do nosso precioso património natural único!






Num vale como muitos existentes na Serra, rasgado por um rio com o mesmo nome,  presencia-se  uma das visões mais deslumbrantes que já tive até hoje na Serra do Gerês! Encontra-se aninhado depois de uma tímida cascata, um lindo lago de um verde esmeralda, onde só por dureza de coração se não sentiria o afago da felicidade!
Seu nome, Poço Azul.

Por ser um lago que não se avista ao longe e só se dá pela sua majestosa presença quando se está quase em cima do mesmo, torna a visão deste ainda mais fenomenal, de uma essência penetrante tal, que jamais me esquecerei da primeira vez que o vi!

Também não me esquecerei das  expressões faciais de um grupo de oito jovens que foram aparecendo aos poucos, e deram de caras com aquela toalha de água de limpar o olhar, enquanto que nós já lá instalados a usufruir de uns belos banhos de sol depois de uma deliciosa banhoca!


Era ver as moscas a entrarem pelas suas bocas adentro, caso as houvesse! Um deles educadamente perguntou-nos se não nos importávamos que ficassem ali também, como se de uma propriedade privada se tratasse! Apreciei aquele belo gesto sensível de quem se apercebeu que estávamos ali para usufruir do mais belo e satisfatório que a Natureza nos oferece! "Prometemos que vamos fazer os possíveis para fazer pouco barulho!", ora aqui está o belo civismo! Assim dá gosto partilhar e compartilhar!
E foram uma simpática e pacata companhia, que deliciaram-nos com o prazer que também transmitiram!



O poço Azul é talvez um dos lagos mais profundos do Gerês. Há quem diga que tem uma profundidade de cerca de 6 metros...possivelmente, e nada de nos deixarmos levar pelo seu enganador fundo quase nítido de tão límpida e cristalina água que o esbanja.
O encantado poço Azul de água tão fresca ou gelada para os mais sensíveis, mesmo em pleno verão, em que o sol demora uma eternidade a aquecer devido à sua profundidade!




Para o meu espírito é um canto divino de reflexão, onde se conjuga o prazer do corpo e da alma, rodeado de montanhas por quase todos os lados e apenas o céu como tecto do mundo. Uma paz serena! Onde consigo flutuar, rodar e observar a luta entre o mineral e o vegetal que o rodeia! Onde brinco com ele em suspeita relação entre mulher e Natureza como se de um apaixonante amante se tratasse!!

Todos os perfumes  aqui se abrem, todos os sons se captam desde a pequena cascata que o penetra, da brisa da montanha que por aqui flutua e das aves que por lá passam!






Aqui, infinitamente adormeceria, talvez morrendo, com meu corpo repousado sobre um profundo lençol de água!