Querido Gerês:
Hoje era suposto ir ter contigo para participar na plantação de mais umas árvores, numa pequena parte do teu território, mas não fui. Custou-me imenso tomar esta decisão mas teve de ser. Tive de estabelecer prioridades, e neste caso a prioridade era ir em direcção à cidade Invicta participar na manifestação "Geração à rasca ".
Peço-te desculpa por esta minha decisão, mas há momentos únicos que não se repetem, pelo menos da mesma forma, e este foi um deles. Além disso o país precisa de mim e de todos nós. Sei que também precisas, mas eu lá estarei para te cobrir de árvores nas próximas oportunidades, e sabes que te adoro, estarei sempre do teu lado até dizer adeus à vida! Tu o grande exemplo para todos nós, com imensas qualidades reconhecidas, pela gente que se disponibiliza a trabalhar de graça, em prol de um Gerês muito melhor, enquanto que os senhores da lei, que também te reconhecem e te elogiam, não passam de tretas, aos actos, nem de graça nem a pagar!
Pois hoje fomos de metro até ao Porto, a cidade dona do meu coração! Não imaginava o que iria encontrar!
As expectativas eram fracas, sempre com a ideia de que o povo Português é muito pacífico, acomodado (à excepção do futebol...) e daí não estar muito convencida em encontrar muita gente por lá. Mas fui, é o meu dever como cidadã deste país. Não sou precária... por enquanto, não estou desempregada... por enquanto. Mas fui em nome de todos os que estão desesperados. Em nome dos que por lá já passaram, dos que ainda não sabem o que lhes espera, dos que já cá estão, dos que ainda estão para vir. Em nome do futuro dos nossos filhos!
Saímos na estação do Bolhão e corremos em direcção à Praça da Batalha, sabendo por informação de um amigo que já lá se encontrava, que a manifestação já tinha começado. Não chegámos à praça da Batalha, nem de perto! Mal entrámos na rua de Sta Catarina já ouvia as pessoas a comentar pelos passeios " Ena, tanta gente! ". Olhámos para o fim da da rua que estava coberta... de um mar de gente! Ficámos perplexos sem saber o que fazer! Resolvemos esperar, que se aproxima-se para nos juntarmos à mesma.
Confesso, querido Gerês que não estava nada à espera daquele cenário! A marcha chegou a nós e continuou em passo lento, cheia de gente nova e menos nova, crianças, grávidas, deficientes, pais, filhos, avós! Gente que viveu o 25 de Abril, lá estavam para nos dar força, dispostos a refundar tudo de novo! Verdade Gerês! Eu vi! E ali fiquei algum tempo no passeio a contemplar aquele cenário de gente serena mas de voz alta e braços arguidos! Ouviam-se frases já antes proferidas como " O povo unido jamais será vencido", "Sai do passeio e vem para o nosso meio", "País precário sai do armário" , "E o povo, pá?!" e outras mais. Batiam palmas e transpareciam os seus desejos. Fiquei quase que emocionada e dei comigo a bater palmas a toda aquela gente que passavam à minha frente, fantástico! Fiquei orgulhosa com o povo do meu país!
Bem querida serra, depois juntei-me à marcha pois claro, estava ali para isso mesmo! Passei de espectadora a "trabalhadora", sem dúvida que esta foi uma forma de trabalhar por todos nós!
Foi um dia que jamais irei esquecer. Uma manifestação pacífica, espontânea, sem intervenção de partidos, sem diferenças de idade, cor, profissões, classes e religiões. Nada foi planeado, não havia propriamente uma ordem a seguir, foi tudo muito natural, estávamos todos ali pela mesma causa. Direita e esquerda se uniram para formar uma só! Lindo e digno de se ver!.
A marcha que começou na praça da Batalha com a finalidade de ir até à Praça D. João I, passou por esta última e continuou até à Praça da Liberdade, pois era tanta a gente que não cabiam na D. João I !!
E encerro tudo isto minha doce Serra, com uma frase que ficou-me marcada na mente, de alguém que disse:
" Não quero que os meus filhos saiam de perto de mim, e tenham que ir para o estrangeiro!! "
Meu Gerês, temos tanta coisa boa no nosso país, tanta gente com capacidade! Temos sol, mar, terra!
Não temos petróleo está certo, mas temos Homens que valem muito mais que isso! E temos a vida, sim a vida que um dia terminará para todos, menos para ti, espero! O Homem irá ,o homem virá, e tudo se irá repetir, pois nunca ninguém aprende com a História!
Isto era tão previsível!Este senhor invisual vê mais que muita gente. |
Um grande abraço saudoso para ti Gerês, espero que para a semana possa respirar-te, até lá e fica bem.
Tua sempre Lírio
Já espero pela próxima manif!
ResponderEliminarE lembrem-se: é preciso votar em branco.
Foi simplesmente magnifico!Eu que vivi o 25 de Abril de 74,na juventude dos meus 17 anos,mantenho bem vivas as memórias!Porque sou uma entre milhares de pessoas que perderam os seus empregos,porque sou mae de dois a rasca,pela vida que queria para os meus filhos e nao lhes posso dar...por todos os que nem o minimo conseguem ter, estive ali..tal como vós mais jovens,para testemunhar esta união de geraçoes! E foi uma emoçao ate ás lagrimas! Que bom reviver Abril! Que bom saber que ,afinal estamos acordados!"
ResponderEliminarAmigos!
ResponderEliminarParece que foi um dia em cheio, não só para pessoas da minha geração, que sentiram pela 1ª vez na vida o que é estar na Praça, como para gente da geração dos nossos pais e avós que pelos vistos reviveram o Abril de novo!
Acho que finalmente a esperança renasceu e isso é importante, pois tinha a sensação que estavam todos desanimados e adormecidos!
Pelo menos deu para todo mundo se juntar nos mesmos locais, partilharem os seus desabafos e não se sentirem tão sós.
Foi magnífico não foi?
Lírio, não tem que pedir desculpa ao Gerês!... Ele está orgulhoso pela decisão que tomou!Há momentos que têm de se agarrar e este foi um deles...
ResponderEliminarUm abraço
Judite