09 de Janeiro de 2011
Neste dia de Inverno mais uma Primavera somei a dezenas que já tenho, e quantas mais irão vir?
Amigos e familiares fazem questão de dar a sua prenda, objectos, mensagens lindas, sorrisos e beijos e
S. Pedro deu-me um dia fabuloso para eu poder visitar a minha terra tão querida!
Que terra é? Não é difícil de adivinhar!
Esta foi a prenda que dei a mim própria, aquela que faço questão de ter quase todos os fins- de- semana!
Miguel Torga foi o " Orfeu Rebelde ", sempre em busca de uma luz para o enigma da vida e de um sentido para o mistério da existência. É o peregrino incansável, desejoso de encontrar um santuário de esperança que lhe aplacasse a angústia e o desespero e o ligasse " a um destino extrabiológico, a uma vida que não acabasse com a última pancada do coração "
No dia 12 de agosto de 1955, no Gerês, Torga escreve isso mesmo:
" Serra: Sempre que me encontro aqui, quando chega este dia, perco-me pelas fragas. Vou fazer anos à Calcedónia, ao Cabril ou à Borrageira - aos picos mais altos da Montanha. Que ao menos o espírito, que vai morrendo no corpo, tenha assim um vislumbre de ressurreição"
Percurso: Arado,Curral dos Portos, Curro da Tribela, Ponte de Servas, Curral de Pinhô, Carvalhosa.
Finalidade: Chegar à Rocalva, permanecer no mágico prado ali existente, entre a Roca Negra e a meda da Rocalva e sentir as sua energias!.
Continuando depois: Sentido para o Borrageiro ( antenas), descer para os vales do curral do Camalhão e Teixeira.
Finalidade: Sentir a paz e tranquilidade dos prados, pedir à senhora do Camalhão para dar forças a uma cadelinha que infelizmente ingeriu veneno( estricnina)que alguém deitou numas entranhas de um animal grande com a possível finalidade de matar os Lobos. Crime terrível e que afecta não só os pobres dos Lobos mas todos os outros animais!
Regresso: Cascatas do Arado.
Onde Passou o vento
são altas as ervas,
e os olhos água
só de olhar para elas!
Era um amieiro.
Depois um carvalho
E junto
um ribeiro
Tudo tão parado.
Que devia fazer?
Meti tudo no bolso
para os não perder.
Fonte pura, fonte fria...
Fonte pura...assim queria
que fosse meu coração:
fluir na noite e no dia
sem se desprender do chão.
Boca da terra ao longe pressentida mas discreta.
A quem te procura entregas-te aberta.
Cantas. E fica a vida suspensa.
É como se um rio cantasse:
em redor é tudo teu;
mas quando cessa o teu canto
o silêncio é todo meu.
Somos como árvores
só quando o desejo é morto.
só então nos lembramos
que em Dezembro traz em si a Primavera.
Só então, belos e despidos,
ficamos longamente à sua espera.
Curral dos Portos |
Canto porque és real.
Canto o teu olhar maduro,
o teu sorriso puro,
a tua graça animal, vegetal e natural.
Horas, horas sem fim,
pesadas, fundas,
esperarei por ti
até que todas as coisas sejam mudas.
Até que uma pedra irrompa
e floresça.
Ponte de Servas |
e no silencio da noite desapareça.
Tudo me prende à terra onde me dou
os rios, o cheiro, a fraga subitamente adolescente,
a luz tropeçando nas montanhas e esquinas,
a terra, as pedras onde ardi impacientemente.
Tudo me prende do mesmo triste amor
que há em saber que a vida pouco dura,
e nela ponho a esperança e o calor
de uns dedos com resto de ternura.
Dizem que há outros céus e outras luas
e outros olhos densos de alegria,
mas eu sou deste ar , desta serra,
deste amor a escorrer melancolia!
Procuro a ternura súbita,
os olhos ou o sol por nascer
do tamanho do mundo,
o ar onde a respiração é doce,
um pássaro no bosque
com a forma de um grito de alegria.
Curral de Pinhô |
a juventude suspensa,
a fugidia voz da água entre azul
do prado e um corpo estendido.
Procuro-te!
Antes de a morte se aproximar, procuro-te.
Nos currais, nos prados, nos vales, nas corgas, nas brandas, nas fragas, nas ribeiras, nas matas, nas albufeiras, nas casarotas, nas aldeias, nos animais, nas plantas, nas flores, nos picos altos
Com amor, com ódio, ao sol, à chuva, ao calor, ao frio!
de noite, de dia, triste, alegre - procuro-te.
Sei agora como nasceu a alegria,
como nasce o vento entre montanhas cobertas de urze
como nasce a água e o amor
quando a juventude não é uma lágrima.
E primeiro só um rumor
à roda do corpo que desperta,
sílaba espessa, beijo acumulado,
amanhecer de pássaros cantando!
É subitamente um grito,
um grito apertado nos dentes,
galope de garranos no horizonte
onde o vale é diurno e sem palavras.
Fala de tudo quanto amo
de coisas que me dás
para que eu as ame contigo:
a juventude, a vida, o ar e a terra
De todas essa pedras, todas,
uma só, onde passa o vento,
escolho para meu uso e alegria!
Como se não houvera
Serra mas secreta,
como se as nascentes
fossem só ardor,
como se o teu chão
fora a vida toda,
o desejo hesita
em ser espada ou flor.
Respiro a terra nas palavras,
no dorso das palavras
respiro
a pedra fresca do granito;
respiro um veio de água
que se perde
entre as espáduas
ou as nádegas;
respiro um sol recente
e raso
nas palavras,
com lentidão de animal.
Viera do rio pela mão duma criança
a montanha é agora de porcelana branca!
Meda Rocalva ao longe |
Cabana de Rocalva |
Prado de Rocalva |
Meda de Rocalva |
Roca Negra |
Parte lateral do Caucão |
Antena do Borrageiro |
Descida para os prados |
Prado do Camalhão |
Senhora do Camalhão |
Curral do Camalhão |
Cabana do prado Teixeira |
Parte do interior |
Tanta chuva já veio esta semana!
Não tardarão mais chuvas, dizem,
e poderíamos responder
que sempre as chuvas têm sido mais propícias
aos olhos amarelos das aves de rapina,
do que às bagas do loureiro ou azevinho,
quase de vidro.
Mas antes teremos descido às aguas frias
e atravessar as mesmas de pés descalços,
pois de outra forma não chegámos lá!
Mas que prazer arrepiante!
Cascata do Arado |
Mas que prazer arrepiante!
Nota: Uma parte deste texto, são poesias de Eugénio Andrade, um pouco alteradas/adaptadas às circunstâncias do espaço.
Parabéns e espero que no próximo ano possas passar este dia no mesmo lugar, a Serra do Gerês;)
ResponderEliminarEspero que sim, e com uma bela companhia de preferência!:)
ResponderEliminarOlá, ando há mais de 40 anos a tentar saber quem escreveu um poema que me ficou gravado na memória em pequenino. Descobri, entretanto, que é do Eugénio de Andrade, mas não sei de que livro nem que nome tem. Será que me pode ajudar? É o poema que inclui
ResponderEliminar"Não tardarão as chuvas, dizem,
e poderíamos responder
que sempre as chuvas têm sido mais propícias
aos olhos amarelos das aves de rapina,
do que às bagas do loureiro,
quase de vidro."
Obrigado.
Zé Maria