" Paz das montanhas, meu alívio certo! "

14/04/2011

De Pitões das Júnias à Fonte Fria


Gerês, 09 de Abril de 2011

Ainda nem 10h:00 da manhã eram, e já estávamos em Pitões para mais uma bela caminhada que nos aguardava. Mas esta foi muito especial. A maior parte do grupo ainda vinha a caminho e por isso aproveitámos para cumprimentar a mais harmoniosa aldeia do Gerês. A cor do céu estava tímida de um cinza inofensivo aguardando que nas próximas horas chegaria o amarelo do Sol.
Trocámos palavras com o Sr. António que guardava alguns barrosões e em tom de desabafo lá falava dos porcos selvagens( Javalis ) que dão cabo de tudo por onde passam. Já no café do rato do Eiró a senhora falava dos filhos que tinham partido à meia hora em direcção à Fonte Fria, para ver se viam as cabras selvagens. Por estes lados há sempre tema, a gente da terra é muito hospitaleira,  recebem-nos  sempre muito bem.
É tempo de regressar à base e já o pessoal tinha chegado. Fiquei com a respiração suspensa e os meus olhos percorriam tudo à procura de alguém que há muito desejava conhecer pessoalmente. Após me chamarem a atenção dirigi-me a ela e demos um grande abraço! White Angel finalmente!
O grupo  parecia ser simpático, e não errei por muito! Uma breve explicação do trilho pelos três aplicados futuros guias e nós com a leve sensação que iríamos ser os cobaias, porque afinal iríamos estrear o mesmo! Mas com todo o prazer! Foi sensacional!
Avançamos estrada abaixo e em breve entraríamos no que poderia dizer...numa outra dimensão! A frescura, o verde, a flora, os aromas, a água, os imensos Carvalhais por ali existentes! As pessoas nem sonham o paraíso que temos aqui tão perto! Eu não imaginava daquela forma! Foi lindo de morrer e chorar por mais!





Uma passagem pela Mata do Beredo, uma paragem na aldeia velha de Juriz para uma explicação e um pouco da sua história, um pouco mesmo porque de pouco se sabe, Águia-real e White Angel transmitiram-o muito bem! Depois uma passagem por um antigo castro, o castelo, onde todos se deliciavam a fotografar a paisagem envolvente. Lá ao fundo avistava-se um ponto branco no topo de uma imponente fraga...o que é? perguntavam alguns, é a capela de S. João da Fraga. Descemos, demos a volta ao castelo e encosta abaixo lá percorremos o belo trilho, que ainda prometia muito mais. A nossa finalidade seria agora ir em direcção à Fonte Fria, passando ou avistando  de vez em quando,  uma imensidão de Carvalhais aqui e acolá.




Aldeia velha de Juriz


Uma breve explicação


Castelo









Entre passos e sorrisos lá continuamos a marchar pelo trilho pretendido. Sempre que podia, Sherpa deslocava-se lateralmente saltitando pelas pedras e penedos, divertindo-se a emitir uns ruídos que se enquadravam perfeitamente no meio ambiente! A boa disposição contagiante, é uma consequência  desta actividade que tanto amo!













Lá ao fundo já se via a Fraga de Brazalite e a Roca Sendeia, tudo isto era-me informado por WhiteAngel que apontava com orgulho! Fizemos mais uma pequena paragem para recuperar as forças, abastecer de líquidos ou a eliminar os mesmos, consoante as necessidades de cada um. O Sol já queimava, aproveitei para colocar o protector solar na cara e limitei-me a estar estar atenta aos sons da Natureza tentando-me abstrair dos  restantes ruídos.


Fraga de Brazalite



Continuando o percurso, daqui a nada já estávamos na fronteira, um pé em Portugal outro em Espanha. As vistas eram soberbas, avistava-se a albufeira do Lindoso e Lóbios no sentido oposto. O ar leve e fresco fazia-me sentir bem e cheia de energia. Seria ali o nosso almoço, mas antes disso havia que subir à Fonte Fria! Quem não se sentisse na disposição para tal, sempre podia ficar ali e apreciar as vistas. Poucos foram os que optaram por subir, eu fui claro! Não me perdoaria nunca se não o fizesse, a não ser que um problema de saúde me impedisse...é tão bom, estarmos bem!
Fonte Fria
Visto de baixo a Fonte Fria não parece muito alta, mas o facto é que a subida ainda é razoavelmente íngreme, nada que não se faça e a ajuda dos bastões é preciosa.
Fisicamente sentia-me em forma, psicologicamente fiquei bem melhor!  Águia levou uma corda para ajudar na parte final, e ainda bem! Obrigada amigo!
Após esta pequena escalada, eis que chegámos ao topo do mundo, com o céu como tecto e a paisagem envolvente um enorme ciclo de uma pintura na tela! Não há galeria de arte com obras mais lindas que esta!!!
Subindo à Fonte Fria



No centro da fraga temos um marco fronteiriço. De um lado da rocha tem um pequeno azulejo de N. Sra. das Candeias (lado Espanhol ) e do lado Português tem um azulejo de Nossa Sra. Fátima já quebrado! 
O vento ali no alto fazia-se sentir, o contacto com o divino era quase real! Confortou-me ver a alegria projectada em cada rosto ali presente! Uma grande satisfação!
Após umas não não sei quantas fotos, começamos a descer.Mais uma vez a corda foi útil para alguns, para outros desenrascavam-se por outros meios com outras acrobacias, e  algumas mãos a oferecer ajuda, bonito de se ver. A descida lá se fez com calma e como disse a Teresa quando chegou cá baixo "Sinto-me tão bem! Não sei como, sinto-me menos cansada agora...!", Incrível não é?

Tempo de descer...

...com cuidado!

Quem ficou lá em baixo...esperava e esperava!


Hora de atestar o depósito das nossas barriguinhas, os ares da Serra abrem o apetite e também a sede! Atestamos as garrafas já quase vazias num ribeiro que corria mais abaixo, depois de almoçarmos e tirar uma s fotos do grupo. Ouvimos por três vezes o Águia citar poemas! Bem pensado,não podia ser melhor escolhido, o nosso querido Miguel Torga!

Citando poemas de Miguel Torga


Abastecimento de água na fonte fria
A partir daqui o percurso custou menos pois era ligeiramente a descer e a fraga de Brazalite ia ficando mais pequena, mas sempre muito fotogénica! Parámos mais tarde no fundo de um vale encantado, com  a melodia  da água fresca do ribeiro do Peredo. A laranja que parti e reparti soube-me como nunca!
Pausa sublime digerida, abalámos vale acima rodeado de Carvalhos, com a linha do ribeiro a acompanhar-nos durante alguns belos metros.

Prado da Tulha


Adeus Brazalite!



Capela de S. João no topo da fraga!




Violeta



Lei da vida...

Obrigada White Angel, por partilhares este momento mágico!
 Foi tempo de saborear os últimos Kms que ainda tínhamos pela frente e de pôr as conversas em dia. E é também isto que tem de bom os trilhos pela montanha, há um bocadinho de tempo para quase tudo! Os momentos de silencio são sempre apreciados e os momentos de conversa são bem vindos também!
Ainda passámos pelo sítio que considero um dos picos máximos do dia, um enorme terraço de granito  que surgiu quase que de repente, como se tudo o resto para a frente acabasse ali, apenas com uma fascinante paisagem de fundo! O cenário era deslumbrante! Quase todos se sentaram e ficaram a contemplar como se de um cenário de um documentário projectado ao ar livre se trata-se! Dali víamos a aldeia de Pitões, as  colinas cobertas de campos verdes e frescos, a albufeira da Paradela parecia um pedaço de mar muito azul! Fabuloso!!
Porque não vens agora, que te quero,
E adias esta urgência?
Prometeste-me o futuro, e eu desespero.
O futuro é o disfarce da impotência...
Hoje, aqui, já, neste momento,
Ou nunca mais.
A sombra do alento é o desalento...
O desejo é o limite dos mortais.

                                                                Miguel Torga
Pitões à vista



"Mar" da Paradela













Diria que aqui seria o The End,  um final em grande! Mas ainda faltava descer, passar a ponte de Rebolões, subir até Pitões e comprar o delicioso pão da aldeia! Ainda não nos tínhamos despedido e já as saudades daquela belíssimo dia e daquele pessoal porreiro me consumiam, já para não falar da nossa doce White Angel!


Foi um dia inesquecível! 
Parabéns aos guias que fizeram um excelente trabalho! Espero e desejo que a Adere reconheça-o como tal!
Até uma próxima companheiros!


Paz nas montanhas, meu alivio certo.
O girassol do mundo, aberto,
E o coração a vê-lo, sossegado.
Fresco e purificado,
O ar que se respira.
Os acordes da lira
Audíveis no silêncio do cenário.
A bem-aventurança sem mentira:
Asas nos pés e o céu desnecessário.

Miguel Torga


16 comentários:

  1. excelente texto!! espero k seja a primeira de muitas! Gde beijo

    ResponderEliminar
  2. Minha querida Lírio,

    Tu sabes que esse carinho todo é recíproco, não sabes? E que caminhar na tua companhia é um privilégio?
    Ainda hoje ao ler o teu texto, sinto um aperto enorme no peito, ainda não sei se fiz bem em revelar sítios tão íntimos e significativos para mim... Como já disse, talvez seja a minha veia de montanheira "egoísta" a fazer-se sentir. A verdade é que aquele património, aquela beleza paradisíaca tem de ser divulgada, e alguém tem de fazer alguma coisa para preservar o que ainda resta...

    Muito obrigada pela tua doce companhia...

    Beijo fresco e verdejante como aqueles prados, envolvido em laços de urze em flor, e perfurado com a mais doce das essências do Gerês... o Lírio!!!

    ResponderEliminar
  3. que melhores palavras que essas do Torga para expressar a alegria e a satizfaçao desse dia?
    Fica-se sem palavras, porque fortes foram as emoções sentidas ...Acho que ja dizes tudo...só me resta unir ao teu sentir e deixar aqui um forte abraço a todos quantos connosco conviveram neste dia e fizeram elevar para lá dessas fragas ,a palavra amizade...MUITO OBRIGADA A TODOS!...um abraço do tamanho do mundo!
    Sempore amiga,Teresa Pereira

    ResponderEliminar
  4. Obrigada Águia!
    Também espero que venham muitas! Grandes ou pequenas,boas ou menos boas, o que interessa é o ar puro, estas terras abençoadas, e companhias porreiras!

    Beijinhos!

    ResponderEliminar
  5. Querida Teresa!
    Acabei de receber esse forte abraço também!Sabe tão bem!És uma amiga linda com muita garra e energia e um exemplo de vida para os dias que correm! Muita força e saúde para continuares sempre assim, e espero continuar a ter muitas vezes a tua companhia!
    Um Xi-coração!!!

    ResponderEliminar
  6. Angel!!!!!

    Ó amiga...estou aqui a pensar o que te dizer...compreendo o que na altura sentis-te, fui também uma privilegiada por ser talvez a primeira pessoa com quem partilhas-te esse sentimento naquela hora. Há pessoas que levam segredos com elas até ao fim da vida...por muito egoísta que pensas ser, achas que seria possível não revelares algo tão belo, até aos finais dos teus dias?!!!!
    Fornece ao teu peito um desaperto, pois com esta bela partilha, conseguis-te 3 coisas:

    1.Mostrares que de egoísta não tens nada!
    2.No teu coração tens uma tatuagem com a palavra GERÊS!!
    3.Conseguiste naquele momento fazer algumas dezenas de pessoas sentirem-se bem, e eu senti-me muito especial por estar ali a ouvir as tuas primeiras palavras! Nunca me irei esquecer!

    Aquele local será sempre teu, pois ninguém passou horas ali como tu, e tudo o que pensas-te e sentis-te é só teu...só tu e aquela grande pedra é que sabe!E é quanto basta para continuar a ser o teu local íntimo e de mais ninguém!!!

    Obrigada pelo sincero beijo!
    Obrigada pela partilha!
    É bem verdade...
    You are a Angel...a White Angel!!!!

    ResponderEliminar
  7. Lírio,,,

    Obrigada...o sentimento esta a elevar-se... a consciência menos pesada... e o coração mais leve...
    Obrigada pelas tuas doces palavras.:)

    Beijinhos

    ResponderEliminar
  8. Minha querida Angel! Que bom! Que Bom!!!!
    Agora já vou dormir mais descansada!:)
    Boa noite e até à próxima!

    Que os anjos de todas as cores te iluminem!

    Uma brisa de beijinhos para ti:)

    ResponderEliminar
  9. Maninha consegui vir dar uma espreitadela ao teu blog. As fotos ja tinha visto, muito giras, o texto, já sabes que gosto muito do que escreves ;) És o meu orgulho maninha, tu sabes ;) Bjinhs. Adoro-te
    Continuação de boas caminhadas para todos(as).

    ResponderEliminar
  10. minhas lindas, que emoções voçês deixam passar através das vossas palavras, fico a pensar quem me dera lá ter estado.bjs

    ResponderEliminar
  11. Minha querida irmã!
    Quero-te tão bem, mais do que a mim própria! Nunca esquecerei das palavras que me transmites-te, quando estive quase no fundo do poço...apesar de ter tido quem me apoia-se, conseguis-te dizer-me a maior verdade e a prova da melhor amizade que alguma vez tive.
    Por favor não mudes, a genuinidade é uma das qualidades que aprecio mais num ser humano!
    Adoro-te!

    ResponderEliminar
  12. Ó Lu! Que alegria que senti quando vi o teu comentário!

    Pensei em ti, mas não queria "abusar" da generosidade da White Angel!Mas agora que a conheço melhor, posso dizer que ela tem um coração do tamanho do Gerês e de todas as montanhas de Portugal!

    Mas olha que falei-lhe de ti!E das maravilhas que dizias dela! De como ela gosta desta Serra, e que mal eu sabia que te referias à White Angel! Como este mundo é!

    Bem dizias tu, ela gosta do Gerês como ninguém! E cá entre nós... ( é contagiante!!!!).

    Amiga Lu! não me esqueço de ti, quando combinarmos a ida ao Camalhão, não quero desculpas da tua parte! A tua presença será a cereja no meu bolo do chocolate!

    Até lá!
    Um Grande beijão!

    ResponderEliminar
  13. Excelente relato e belas fotos,como sempre...
    Abraço,
    João Dias

    ResponderEliminar
  14. Peço desculpa mas atrevo-me a comentar, apesar de já ter sido quase há um ano.

    UMA DELÍCIA TUDO ISTO! :o texto, as imagens, os lugares e o espírito de partilha vivido ao máximo! Que momentos tão reconfortantes passei durante as ultimas 2 horas a pesquisar com o olhar e o sonho este blog. Mto. OBRIGADO, "Lírio"? e Parabéns.

    Fica uma vontade enorme de sentir todo esse chão serrano e de conhecer-vos a todos um dia!
    Sou da zona de Aveiro, conheço (imperdoávelmente mal) o Gerês e a Peneda, e pelos vistos nem sei o que perco ;) Para os meus lados, também há serranias e montanhas para "absorver" com intensidade (Arada, Gralheira, Freita, Caramulo, etc) adoráveis. Recomendo. Um abraço :)

    Mário Belo
    aveiro

    ResponderEliminar
  15. Olá Mário :) Bem vindo a este espaço!!
    Ainda bem que gostou, fico muito contente pois gosto de ver as pessoas mais felizes, nem que seja mais um pouco :)

    Não é o único que conhece pouco a Peneda-Gerês! Eu própria atrevo-me a dizer que ainda muito me falta para conhecer, verdade!! O PNPG é constituído por quatro serras, a que conheço melhor é a do Gerês.

    Já estive na serra da Arada e da Freita! As montanhas de xisto, muito lindas também!!Terras de muitas cabras :)
    Mas é no Gerês que o meu coração se sente confortável...

    Quem sabe um dia a gente se encontre por aí, será um prazer!

    ResponderEliminar