" Paz das montanhas, meu alívio certo! "

06/06/2012

Curral do Teixo


Numa leitura ocasional do livro de Tude de Sousa, "Serra do Gerez", leitura que recomendo vivamente e que a Câmara Municipal de Terras de Bouro teve a louvável iniciativa de reeditar, a certa altura Tude diz-nos "O rio Homem recebe bifurcadas das Lamas de Homem e da Amoreira as suas primeiras águas, engrossadas na margem esquerda pelos ribeiros do Modorno, do Teixo, que corta o curral do mesmo nome, por causa certamente de um magnífico exemplar d'aquella conífera que alli existe, com velha edade já; da cova da Porca e da água de Palla, e vertente da Abilleirinha;

Os conhecedores desta área devem notar que não é referida a ribeira do Cagarouço e é referido o ribeiro do Teixo.  Nesta  área existe um local, perto da corga dos salgueiros da Amoreira, que se chama Teixo, denominação aliás muito comum, que advêm da existência nesses locais de antigos Teixos. No entanto  Tude nomeia as linhas de água desde montante a jusante, este ribeiro do Teixo devia estar situado na margem esquerda  entre a Ribeira do Modorno e a ribeira de água de Palla.
Mapa do perímetro florestal do Gerez


No mesmo livro Tude fornece-nos mais pistas, no  extracto do  mapa do perímetro florestal do Gerez,  observar-se o polémico curral do Absedo, do lado esquerdo, é assinalado a ravina da cova do Teixo e a ravina da cova da Porca. Penso que o Cabeço da Cova da Porca será a elevação que hoje conhecemos como Torrinheira. 


 Como terá surgido a toponímica de ribeira do Cagarouço  é um mistério, Tude nunca refere esta ribeira. Com isto concluímos que esta ribeira era conhecida no tempo de Tude como ribeiro do Teixo, com curral, com o mesmo nome. Da última vez que lá passamos encontramos antigas mariolas e antigos trilhos, cobertos de muita vegetação, alguns impenetráveis, do Teixo nem sinal, provavelmente desapareceu.

















































Quanto aos Teixos, Taxus baccata, árvore venenosa e perseguida pelos pastores é uma das árvores mais ameaçadas da flora portuguesa. Actualmente, pouco resta dos magníficos bosques de teixos, as Teixeiras, que terão vegetado um pouco por toda a região montanhosa do norte e centro do país, sobretudo em áreas abrigadas, até aos 1500 metros de altitude. Mais recentemente, o teixo tornou-se alvo do interesse da indústria farmacêutica, pelo facto das suas folhas serem ricas em taxol, um agente anti-tumoral utilizado com sucesso no tratamento do cancro do ovário e da mama.
 Já Tude de Sousa referindo-se aos Teixos, "Por sua muita rijeza diziam os antigos servir bem para a construcção de vasos de guerra, como se experimentou na fortaleza do galeão portuguez Santa Thereza, que acabou abrazado na batalha naval junto às Dunas entre espanhóis, a quem estavam sujeitos, e holandeses, e que resistiu largamente ás baterias dos holandeses. ...as montanhas do Gerez deviam ter-se em grande estimação, pois produziam madeirame mais rijo e precioso que Bampeche, Brazil, India, etc."
 Em Portugal, são raros os teixos de grande porte. Ainda assim, é possível encontrar alguns exemplares, provavelmente plantados, com centenas de anos, facto que motivou a sua classificação como «Árvores de Interesse Público». É o caso do teixo de Tranguinha, o mais antigo conhecido em Portugal, e que se estima ter cerca de 700 anos de idade. Encontra-se na freguesia de Santa Maria (Bragança) e está classificado desde 1974. Cerca de 200 anos é a idade estimada do teixo que se encontra na Quinta do Senhor da Serra, na freguesia de Belas, em Sintra. Igualmente centenário é o teixo da Quinta de S. João, classificado em 2000 e localizado na povoação de Teixoso, na Covilhã. Por último, duas referências curiosas. A primeira para dois imponentes teixos existentes na cidade de Lisboa, ambos localizados no Jardim Braancamp Freire e classificados em 1968 e 2000, respectivamente; a segunda para dois outros teixos de soberbas proporções, existentes no recinto da antiga Faculdade de Engenharia do Porto, na Rua dos Bragas, e que embora não se encontrem classificados, constituem exemplares dignos de nota. 
Teixo no recinto da antiga Faculdade de Engenharia do Porto, árvore várias vezes centenária.

2 comentários:

  1. Boas fotos.
    Como sempre, só é pena não mostrares o mapa por onde andas... mas eu faço igual!
    Só te 'ganho' pq ponho o trilho no wikiloc, que é o equivalente ao mapa!

    Abr.

    Pxaranha

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    1. Olá

      Se lês-te o texto ele indica-te, sem dúvidas, o local, até tem um mapa, o de Tude. Relembro-te que a partir da saída do novo plano de ordenamento este curral fica situado numa área de protecção total do parque. Portanto é necessário pedir autorização para o visitar.

      Abraços

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