" Paz das montanhas, meu alívio certo! "

08/11/2010

Arado-Vale do Teixeira e Camalhão


 2010/10/16

Neste dia a nossa finalidade era chegar ao vale do Teixeira e o seu estético prado.
Partimos das famosas cascatas do Arado e sem deixar de apreciar estas imponentes quedas de água, a mesma água que nasce lá em cima , ribeiros e corgas que se unem e namoram, formando o rio Arado que descai por entre colossais pedras  montanha abaixo. A sua força de queda é feroz, mas as suas lagoas são deleitosas.
Avistámos a primeira queda do pequeno miradouro já feito para essa finalidade, mas algo nos aguardava muito mais lá em cima,  sobre a serra quase muda de uma panorâmica surpreendente.
Subir e subir o lema é sempre o mesmo, não há outra forma de alcançar estas pequenas grandes maravilhas, que esta terra nos convida e que  aceitámos de muito agrado.
Tentando seguir o mapa lá mais acima, ouvindo algumas dicas de alguém que já fez o trilho mas em sentido inverso, tudo parecia esclarecido e confuso. Por vezes não havia vestígios de caminho, aqui neste preciso momento a norma era procurar a segunda cascata que ficava algures para ali ou para acolá. Os ouvidos esticavam-se para tentar escutar a água mas nada. Continuámos a trepar pedras, a corta mato , a procurar uns supostos pinheiros mansos que afinal eram cedros, e que lindos! Parecia um combinado de pinheiro com cedro, mas eram cedros e perfumados.
Continuando a marchar e trepar lá se avistou o rio ao fundo e um gargalhar de agua  que já nos é familiar, mas de cascata, só um pedacinho se avistava,  “- Mas então vamos lá ver qual será o melhor caminho a percorrer para lá chegar, por aqui impossível, além talvez “. E era mesmo além, bem mais à frente.
 A descida tinha um declive bastante acentuado de boa aderência. Avistámos algumas mariolas , estamos no percurso certo. Aproveitámos para reconstruir algumas para delírio dos miúdos, que estavam connosco também.
Lá continuámos a descender a colina até chegar à linha de água. Uns continuaram a marchar do lado direito, outros não resistiram a saltar para a outra margem, todos a seguir o mesmo sentido, o da cascata que já tínhamos avistado ao longe.
Chegados ao local soberbo, algo se escondia discretamente entre pedras e penedos, uma profunda lagoa de um penetrante verde luminoso! A escarpa pela qual o grande fio de água descaía era grandiosa, parecendo que tinha sido cortada como se de uma grande fatia de bolo se trata-se.
Ficámos bastante tempo a contemplar aquele nato espectáculo, as máquinas fotográficas disparavam incansavelmente,  com a sensação sempre presente de que por muito que captássemos o cenário, não havia retrato que demonstra-se toda aquela imponência.
Após encher as nossas barrigas com toda aquela miragem, lá fomos novamente ladeira acima, agora mais difícil  para as nossas pernas, mas com o nosso alento mais forte.
A partir daqui foi sempre a ascender, passando por diversas mariolas e contemplando o cenário que nos rodeava. Algumas pedras adquiriam formatos curiosos como um bico de pássaro, um carneiro um templo.

Por fim chegámos ao cimo e daí já se avistava o vale do Teixeira, e os seus prados bem lá ao fundo. Tive a impressão de que estava a observar uma pintura projectada numa tela! O vale é de facto magnífico, tão natural e cheio de detalhes admiráveis a qualquer olhar compassivo, andando o silencio à volta a querer falar.

O rio Teixeira formado por diversos ribeiros que descem pelas corgas das montanhas que circundam o vale, serpenteava quase na nossa direcção. Cambalhotas de pedras prosseguiam até lá baixo ao começo do vale, mas tinha caminho, e lá fomos sem dificuldade. Impressionante os fetos agrupados apenas numa pequena parte do lado direito do vale, já secos com um tom acastanhado, que dava uma linda mancha de cor à tela, mais à frente e do lado esquerdo jazia um conjunto de árvores que morreram em pé…lindo esta conjugação do mirrado dos fetos e do lívido das árvores que se enquadram na perfeição, não ferindo os nossos mirares, tudo faz parte desta terra mesmo com o seu fim de vida!
Tudo o resto estava verde, as escorrências da água nas encostas de algumas montanhas espelhavam com a projecção do sol ,mais parecendo o brilho de um diamante.
O dia estava lindo e mais lindo ficou. Mocidade esplêndida e vibrante!
Já no vale seguimos o caminho muito perto do pequeno rio.
Quase a chegar ao prado paramos na “piscina do Teixeira”. Bem que não levei muito a sério, mas houve mesmo quem trouxe-se fato de banho para dar um mergulho naquelas águas gélidas! E assim se falou e tanto se realizou! Dois companheiros encheram o peito de ar  e coragem, e lá mergulharam!
Os meus garotos também foram, um deles deixou-se saborear só até aos joelhos, mas o outro mergulhou para de imediato sair a tremer como varas verdes! A toalha já estava a postos para os receber.
Há beira desta pequena lagoa refrescante, encontra-se uma pequena parte de solo com erva dócil e uma minúscula parcela de areia grossa. È ou não é um bom sítio para descansar e refrescar o corpo e o espírito? De preferência no Verão…
Toca a vestir, atravessar o rio e ir para o prado do Teixeira encher as barriguinhas, pois isto de chegar aqui abriu-nos o nosso apetite. Fomos para a beira da cabana e após colocar o farnel na mesa de pedra serrana decorada com uma linda toalha bordada que uma das companheiras trouxe, atestámos o nosso corpo de energia e calorias!
Agora com mais forças resolvemos ir um bocadinho mais acima até ao prado do Camalhão. Trata-se da continuação do vale sendo o percurso muito idêntico como até aqui.
A dada altura surgiu um comentário acerca de uma suposta Senhora do Camalhão. Trata-se de uma pequena estatua que alguém fixou numa rocha, chamando-lhe a Santa do Camalhão. Nunca ouvimos alguém falar nesse assunto, apenas sabemos porque já vimos imagens na Internet de fotos de outros montanheiros, que passam por lá. Não sabíamos qual a rocha em que estava afixada, por isso fomos sempre atentos a olhar para as montanhas, tanto do lado direito como do esquerdo. Não sei porquê inclinei-me para uma montanha mais além e comentei: “- Deve ser naquela”, o meu fiel companheiro  perguntou-me porquê, mas eu não tinha uma resposta concreta, apenas uma intuição e nada mais.

Pouco mais, e por sorte, alguém  que olhando para o chão reparou numa lagartinha que por ali estava. Formaram todos quase um circulo para poder observa-la mais de perto. Curiosa como sempre, estiquei o meu pescoço e não podia acreditar no que via! Contornei os meus companheiros de forma a chegar o mais perto possível do animal e aproximei de imediato, com cuidado, a minha mão daquele bichinho encantador. Ouvi  uns comentários do meu lado: “- Ela não vai pegar nele pois não?!... Ai, vai vai!...Não?!...Garanto-vos que vai!”, e já eu estava com aquela linda lagartinha na palma da minha mão, com uma pelugem aveludada e lindíssima  de uns tons pretos e com uma risca amarela no centro, fiquei deslumbrada! Devia de ter à volta de 5 cm de cumprimento, nunca tinha visto uma daquele tamanho! Os senhores fotógrafos não paravam de disparar as suas máquinas digitais e eu contemplava e sentia aquele ser vivo

a fazer-me cócegas na minha mão.


Que sensação indescritível! Era capaz de estar ali horas a observar aquela criatura, mas tinha que abalar e deixa-la novamente no seu habitat. Assim fiz com muita pena minha, mas cada um no seu lugar e é assim que os seres vivos se sentem felizes.
Lá continuámos em fila indiana, pelo carreiro estreito rodeado de vegetação rasteira. Um Carvalho já praticamente morto destacou-se no meio do vale, ficámos a contempla-lo por uns minutos e a registá-lo nas nossas máquinas. Estava sem vida mas majestoso e único naquele raio.
Já se começava a avistar as árvores do prado do Camalhão, as cabeças continuavam a rodar ora para a direita ora para a esquerda. Nisto qualquer coisa pareceu-me destacar-se numa das montanhas do lado esquerdo, naquela da intuição “ - Está ali!...O quê? Aonde?!...Alí a Santa, estão a ver? É muito pequenina mas vê-se! Alíí!!!”
Senhora do Camalhão
Isto de explicar onde fica um pequeno objecto no meio daquele agrupado de montanhas é complicado. De início só um ou outro é que avistaram, depois já todos tinham conseguido enxergar.
Continuámos a andar em direcção ao prado e eu sempre com os olhos postos na Santa, olhando só de vez em quando para a linha do trilho, não fosse tropeçar. Enquanto que comentava  o desejo de ir ver mais de perto a mesma, e a minha companheira do lado já a pensar em alinhar também, já ouvíamos umas exclamações dos companheiros que seguiam na frente. Apressámos o passo e rapidamente percebi o porquê de tanta admiração.
Fiquei quase que petrificada a olhar para o cenário exposto à minha, à nossa, frente:
A imagem parecia surgir de um livro de um  conto de fadas, só faltava ali uns seres semelhantes aos gnomos, houve até quem comenta-se que parecia também estar num filme de Harry Potter. Seja como for fica à imaginação de cada um.
Este prado estava com um aspecto deslumbrante, não sabemos se tem a ver com a época do ano pois estava especialmente recheado de crocos lilases no meio da erva verdinha e  macia , com diversos carvalhos sem folhas, sem casca de revestimento, completamente brancos acinzentados. Para além da cabana que possuía , tinha também carvalhos recheados de vida e revestidos de uma densa folhagem. Um tronco ou outro jazia no solo e tudo isto que acabo de descrever completava-se na perfeição.
Depois de observar toda aquela obra, senti uma enorme vontade de saltar, dar cambalhotas, fazer o pino, rodopiar nos ramos das esculturas de árvores secas. No meu sangue corriam rubis dispersos!Não fiz nada disso, fiquei demasiado acanhada, talvez com o receio de pensarem que eu seria maluquinha… talvez, mas que todos temos um pouco de louco dentro de nós temos. Há sempre uma primavera em cada vida é preciso cantá-la assim florida!
Mas não desisti da ideia de correr montanha acima em direcção à Santa do Camalhão juntamente com a minha companheira do desafio. Juntas subimos colina acima em passo de corrida, como duas garotas entusiasmadas em busca da descoberta. Não sabemos onde fomos requestar tanta energia para trepar todas as pedras que tínhamos pela frente, mas cada vez que estávamos mais próximas mais força adquiríamos. Por fim chegámos ao limite atingível, pois a imagem ainda estava um pouca mais acima e já não era fácil trepar para chegar tão perto, mas ali já bastava para contemplar a mesma. Reparei que havia vestígios de pelo menos uma vela, alguém que provavelmente pediu à Santa para iluminar o seu caminho…
Lá de cima, para além daquela imagem especial, tínhamos outra que mirada de mais longe e vista daquele ângulo, era um autentico bálsamo aos nossos olhos, o prado do Camalhão. Senti-me luz e cor, ritmo e clarão!
Descemos completas e satisfeitas, aproveitando para um agradável diálogo.
Chegando ao prado, um companheiro repousava semi-deitado, encostado a um carvalho, os miúdos já petiscavam,  e outros viam as fotos no visor da máquina. Aproveitei para encher a barriga também pois tínhamos agora a viagem de volta pela frente.
Para trás lá fomos nós com tristeza por deixar um local tão precioso, mas pelo menos com alguma satisfação por voltar a percorrer o mesmo trilho que não esgota a vista e faz esquecer o cansaço dos nossos pés.




Foi tempo de construirmos uma
mariola com os miúdos e deixar a
nossa marca de presença, foi tempo
de olhar por uma última vez, naquele
dia, a vista do vale antes de
começarmos a descer a colina, foi
tempo de contarmos aventuras
passadas, foi tempo de tirarmos as
ultimas fotografias junto à cascata e
foi tempo de darmos um grande
abraço de até uma próxima,  depois
deste dia formidável.




Tranquilidade…calma…anoitecer, num êxtase, eu escuto pelos montes o coração das pedras a bater…
E neste mesmo dia, no regresso a casa, ainda houve tempo para avistarmos o pôr do sol e dar por fim a este dia.

 Logo que surgiu a primeira estrela desejei que outros dias mais, semelhantes a estes, se repitam.
Que assim seja!

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