" Paz das montanhas, meu alívio certo! "

17/09/2011

Homenagem ao último vezereiro de Ferral - 1ªParte




Regresso às fragas de onde me roubaram.

Ah! minha serra,minha dura infância!

Como os rijos carvalhos me acenaram

Mal eu surgi, cansado, na distância!


                               Regresso -  Miguel Torga




Fiz questão de começar com uma imagem do Sr. António Veras, o último vezeireiro que pastoreou o gado bovino pertencente à Vezeira de Ferral, uma das muitas existentes no Parque Nacional Peneda-Gerês.
Esta imagem para mim transmite muito do que foi o passado no Gerês!
O olhar que aqui conseguimos captar, penso que demonstra bem o sentimento que este grande Homem, sentia por dentro, neste memorial dia. Uma combinação de saudade e lembrança, o olhar cansado do sacrifício a que a vida não o convidou mas obrigou! Uma sabedoria serrana  inigualável e uma simplicidade tão bela, como o próprio Sol num dia tímido e nebuloso! Sempre atento e bastante desperto, como se de um castigo ainda levasse, por uma distracção ou descuido que pudesse surgir! No olhar deste genuíno Homem reside um passado jamais esquecido! É caso para dizer que livre não é, pois nenhum homem o permite e nem a própria vida o consente, mas a sua teimosia conseguiu sempre, quebrar um grilhão de uma imensa corrente!!




E aqui está o admirável homem de meia idade, com as suas lembranças e peripécias curiosas, ao que deixa ao homem diplomado um livro recheado de histórias e ainda muito para aprender!!








10 de Setembro de 2010

Após uma semana  inteira de céu limpo  o dia 10 começou um pouco cinzento e surpreender-nos  com uma chuva miúda e inesperada, que a tarde não pediu mas  a terra agradeceu.
Felizmente dos ares serranos já tudo espero e comecei o dia preparada para o que der.
Foi a primeira vez que vi  o Sr. António, e  pouco depois não resisti, dirigi-me ao mesmo demonstrado o meu prazer em conhece-lo!
A caminhada lá começou com os homens alinhados em direcção à já bem conhecida mariola do castanheiro.



Seguimos quase sempre em fila indiana, quebrando o bater das botas  no piso húmido de pé-posto há muito calcorreado. O nevoeiro era cada vez mais cerrado e o dia ameaçava chuva. As conversas foram surgindo timidamente e daqui a nada já ia ouvindo algumas histórias do último vezeireiro, que soavam da sua voz de tom baixo e timbre abafado. Levei um certo tempo a perceber o que dizia, mas simpatizei rapidamente com os seus modos e expressões, tão naturais como a própria serra.


Cedo percebi que algo de bom aguardava-me neste dia, todo aquele grande grupo me era desconhecido à excepção do Sr. Francisco Martins ao qual devo a minha presença neste dia, mas outras pessoas mais eu iria conhecer e receber um pouco da sua sabedoria e hospitalidade geresiana.
O Francisco, um dos fundadores do site Aventura da Saúde, fascinou-me seu empenho pela natureza e montanha! Para além das regras de sobrevivência  tinha uma paixão especial pelos cogumelos e seus benefícios! E claro está pelo Gerês!!!


Após tanto nevoeiro persistente, as nuvens resolveram dispersar um pouco como uma cortina a esvoaçar numa gigantesca janela, deixando os olhares penetrarem num pouco do que a paisagem tem de mais imponente: as Montanhas.

Bonito de se ver!!
Um grave silêncio da paisagem ao fundo, espreitava e se escondia como que jogando às escondidas com o homem! Os garranos  tinham de aparecer mais uma vez, como praticamente todas as vezes que visitámos o Gerês!
Ah! Este ar livre que me preenche, rodeado de vida quase eterna!
Serra nua tamanha, que te vestes de urze, carqueja e giestas, cobre-me com teu manto verde e húmido!

  Serpão


E aqui se escondiam os guardas fiscais no tempo do contrabando, e apanhavam os  pobres desgraçados!!

O tempo começava a encobrir novamente e a chuva a tocar de mansinho como uma orvalhada de S. João!

E com esta não contava, nem fazia a menor ideia, nas montanhas altas do Gerês em tempos à muito perdidos, plantava-se centeio! Eis a prova viva dos seus vestígios:

Se não fosse o Sr. Martins a informar-me, nunca imaginaria  o que aquilo era...
Uma eira para malhar  o centeio!!
E aqui está uma lembrança de um dos resgates efectuados na serra, uma manta térmica!

As barriguinhas já protestavam algo para as consular e por isso acharam por bem fazermos uma paragem no curral das negras para carregar energias! A chuvinha leve parecia vir para ficar, e cada um abrigou-se conforme mais lhe dava jeito!

A maioria ficou-se pelo abrigo das giestas...
Outros preferiram o amparo de um grande conho!







Perguntei: "- Sr. António, o que comiam quando passavam os dias na serra?"
       
Resposta:

- Por cada duas cabeças que levávamos, meio quilo de carne, meio quarto de pão e 1 litro de vinho...e mais qualquer coisita se nos davam!!


Bom mas naquela hora, estava o Arménio atarefado a fatiar o presunto caseiro que trouxe e a oferecer os chouriços também caseirinhos!" E quem é servido?!", perguntava "...está tudo com vergonha?!Vá lá quero ver se fico com a mochila mais leve!!!". E  lá se formava  a  fila dos  mais gulosos!!!...e até nem era pelos chouriçitos...era  mesmo  só  para  o rapaz  puder  ficar  com a mochila mais leve!!! Obrigada Arménio :)

Nota: E em breve publicarei a 2ª parte...a mais deliciosa!


2 comentários:

  1. Essa da eira 'tá fixe!
    Se a visse também ficava a olhar para ela com cara de inocente!

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  2. Pois peixinho! Estas a ver o quanto temos de aprender acerca das terras geresianas?! O Gerês está cheio de história!!

    Depois disto andámos a pesquisar,as cegadas e as malhadas foram sempre pretexto para festas e para comer melhor! Eram realizadas em meados de Julho e o centeio, após cortado era recolhido e ficava a secar. O colmo era aproveitado para chapelas dos cortiços, encher os colchões das camas etc. Como vês tudo que a natureza nos dá é muito útil e não se desperdiça!!!

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