" Paz das montanhas, meu alívio certo! "

30/05/2011

O delírio do Poço Azul




 
Num Gerês em que quase todos conhecem, abunda o verde, o fresco, as fontes, os ribeiros, algumas cascatas, as portas de entrada e as estradas mais frequentadas.

No Gerês que alguns conhecem, existem os trilhos marcados onde a água marca na maior parte das vezes a sua presença, onde se pode estar mais pertinho do céu.

Num Gerês de lírios, jasmins, teixos e fetos, de cabras montesas, corços e garranos, das paisagens únicas, da constante água fresca rebolando pedras, deslizando por corgas onde se escondem verdadeiros oásis dentro de um oásis! Locais onde egoísticamente falando, poucos frequentam e ainda bem, para o bem  de  todos nós e do nosso precioso património natural único!






Num vale como muitos existentes na Serra, rasgado por um rio com o mesmo nome,  presencia-se  uma das visões mais deslumbrantes que já tive até hoje na Serra do Gerês! Encontra-se aninhado depois de uma tímida cascata, um lindo lago de um verde esmeralda, onde só por dureza de coração se não sentiria o afago da felicidade!
Seu nome, Poço Azul.

Por ser um lago que não se avista ao longe e só se dá pela sua majestosa presença quando se está quase em cima do mesmo, torna a visão deste ainda mais fenomenal, de uma essência penetrante tal, que jamais me esquecerei da primeira vez que o vi!

Também não me esquecerei das  expressões faciais de um grupo de oito jovens que foram aparecendo aos poucos, e deram de caras com aquela toalha de água de limpar o olhar, enquanto que nós já lá instalados a usufruir de uns belos banhos de sol depois de uma deliciosa banhoca!


Era ver as moscas a entrarem pelas suas bocas adentro, caso as houvesse! Um deles educadamente perguntou-nos se não nos importávamos que ficassem ali também, como se de uma propriedade privada se tratasse! Apreciei aquele belo gesto sensível de quem se apercebeu que estávamos ali para usufruir do mais belo e satisfatório que a Natureza nos oferece! "Prometemos que vamos fazer os possíveis para fazer pouco barulho!", ora aqui está o belo civismo! Assim dá gosto partilhar e compartilhar!
E foram uma simpática e pacata companhia, que deliciaram-nos com o prazer que também transmitiram!



O poço Azul é talvez um dos lagos mais profundos do Gerês. Há quem diga que tem uma profundidade de cerca de 6 metros...possivelmente, e nada de nos deixarmos levar pelo seu enganador fundo quase nítido de tão límpida e cristalina água que o esbanja.
O encantado poço Azul de água tão fresca ou gelada para os mais sensíveis, mesmo em pleno verão, em que o sol demora uma eternidade a aquecer devido à sua profundidade!




Para o meu espírito é um canto divino de reflexão, onde se conjuga o prazer do corpo e da alma, rodeado de montanhas por quase todos os lados e apenas o céu como tecto do mundo. Uma paz serena! Onde consigo flutuar, rodar e observar a luta entre o mineral e o vegetal que o rodeia! Onde brinco com ele em suspeita relação entre mulher e Natureza como se de um apaixonante amante se tratasse!!

Todos os perfumes  aqui se abrem, todos os sons se captam desde a pequena cascata que o penetra, da brisa da montanha que por aqui flutua e das aves que por lá passam!






Aqui, infinitamente adormeceria, talvez morrendo, com meu corpo repousado sobre um profundo lençol de água!

25/05/2011

Drave - A aldeia mágica

Por esse país fora, ainda há muitas aldeias com características genuínas que despertam a curiosidade de qualquer um.
A maior parte delas ainda habitadas na maioria por populações já envelhecidas, muitas delas já sem ninguém, e outras ainda completamente abandonadas!
Vou falar um pouco de uma aldeia completamente diferente de todas as descritas, uma aldeia especial que tem pelo nome de Drave.


A aldeia de Drave pertence à freguesia de Covêlo de Paivô, concelho de Arouca do distrito de Aveiro. Situa-se numa cova entre a Serra da Freita e a Serra de São Macário.
Não se sabe ao certo em que época surgiu esta aldeia colocada no fundo de um Outeiro elevado entre a confluência de três ribeiros: Palhais, Ribeirinho e Ribeiro da Bouça , que se juntam no fundo desta povoação dando origem ao Rio de Drave. Pelas árvores antigas que se encontram neste local, parte-se do princípio que a aldeia data já de muitos séculos.

Drave não é uma aldeia como outra qualquer, há qualquer coisa de diferente neste local...qualquer coisa de especial, pois embora actualmente abandonada não se considera uma aldeia desabitada! Isso mesmo não está desabitada! Chamam-lhe a aldeia mágica. Vamos tentar perceber porquê.

Minas
Conheci pessoalmente esta aldeia à cerca de 16 anos atrás, quando ainda era habitada pelo último casal da população local. Não me pode esquecer o percurso que fizemos até lá. Deixámos a carro na aldeia mais próxima, Regoufe, actualmente ainda bastante habitada, conhecida também pela aldeia das minas de Volfrâmio, vestígios ainda  presentes.


Campos de Regoufe
Há 16 anos atrás, Drave ainda não era conhecida pela aldeia mágica, poucos sabiam da sua existência, nem sequer havia indicações do começo do trilho, pois ainda não era conhecido como tal. Perguntámos à população de Regoufe para onde seguir a fim de encontrar essa aldeia misteriosa, rapidamente indicaram-nos o caminho, que ainda era um pouco confuso de dar com ele, mas depois de apanha-lo seria sempre em frente. Seriam cerca de 4 Km até lá chegar.



As minhas amigas de Regoufe




Assim fomos em busca da "aldeia perdida", curiosos pela sua forma, disposição e sabe-se lá mais o quê. Fomos como quatro crianças à procura de um entretimento e de uma forma diferente de ocupar o nosso tempo, numa tarde Primaveril de 1995.
Como a ânsia era muita de encontrar e conhecer, o percurso pareceu-nos muito longo! Era um nunca mais terminar de caminhar, uma sensação de estarmos a percorrer o lado errado do caminho.
Em todos os locais que visito, guardo sempre sensações, que me marcam para sempre os registos da minha memória. Lembro-me bem de contemplar do outro lado, as linhas arredondadas dos montes, com um rio que passava no fundo e que poucos eram os ângulos que davam para vê-lo. Eram uns montes diferentes, era a Serra de S. Macário.Lembro-me de estarmos num absoluto silêncio e os sons que me marcaram aqui foram os das moscas em constante "Red Bul", e das cabras que não se viam, mas ouviam-se! E o vento suave!




Em cada curva que fazíamos do caminho, estávamos sempre à espera da desejosa miragem, até que por fim, ao dobrar de mais uma, detectámos qualquer coisa que nos despertou o olhar! Um aglomerado de casinhas quase em cascata, tão escuras como os próprios montes que as rodeavam, que quase não dava para notar.  Tudo em xisto escuro, com a excepção de uma aparente pequena capela. Mas ainda faltavam uns belos metros para lá chegar,continuámos em passo mais largo.
 A porta da entrada é uma ponte que nos levaria a uma das aldeias mais bonitas de Portugal. Um sítio soberbo, pelos seus campos circundantes na maior parte deles em socalcos nítidos de outros tempos de  intensivo cultivo. Os ribeiros frescos que por lá passavam, destacavam-se logo no início, muito convidativos a um mergulho, mas a Primavera ainda era tímida. Percorremos a aldeia de uma ponta à outra, não havia viva alma, só a dada altura verifiquei uma cabecita a espreitar lá no alto de uma pequena e envelhecida janela, que rapidamente se retirou logo que me apercebi da sua presença, ficando apenas as cortinas a mexerem, possivelmente com o vulto do lado de dentro, a observar os estranhos intrusos naquele local quase perdido e escondido do resto do mundo! Devia de ser um dos dois últimos habitantes da aldeia.


Passado 15 anos, mais precisamente em 2010 fui visitar novamente a aldeia, já considerado um PR  aconselhado  pelo turismo de Arouca intitulado: Drave - A aldeia mágica.
Acabei por ir lá mais uma outra vez ainda, nesse mesmo ano.  A viagem de carro é longa mas é um consolo quando lá se chega!
Fiquei a saber que a aldeia estava a ser recuperada pelos escuteiros! Mas que bela ideia!!
A procura de um local onde fosse possível levarem os jovens a tomarem contacto com uma filosofia de vida diferente, longe do materialismo, individualismo e o grande consumismo, fizeram da aldeia de Drave a eleita.
A beleza da Natureza que aqui se encontra em estado natural, o isolamento de quase tudo e todos, com a rudeza das condições e precariedade do equilíbrio ecológico, tornou este local o ideal para o encontro de caminheiros de modo a preparar actividades em comum, valorizarem-se pessoalmente, trocarem ideias e reflectirem sobre o rumo que desejam tomar na vida.
Após muitos percursos, caminhadas e trilhos por todo o país, Drave foi a escolhida pela base nacional da IV (BNIV), sendo hoje um centro escutista dedicado à espiritualidade.
É na aldeia de Drave que alguns escuteiros  do corpo nacional de escutas, sonharam algo que agora se torna um projecto de dimensão nacional.A ideia consiste em tomar  Drave num centro escutista, recuperando-a arquitectonicamente, dando-lhe dentro dos possíveis a sua beleza original, e criar aí um centro de actividades escutistas particularmente orientadas para a descoberta da espiritualidade  através da união com a natureza.

É sem dúvida alguma uma excelente iniciativa, e merece um especial elogio a quem teve a ideia e a quem a tornou numa realidade. Os meus parabéns a todos os jovens caminheiros que procuram o caminho mais difícil para confortar o corpo e a alma! É um bom estágio para a nossa vida actual, que está   rodeada de  egocentrismos e diversões fúteis, sem conteúdos ricos em sabedoria, beleza natural e respeito pela Natureza.




O caminho para chegar a Drave é longo, tanto por estrada como pelo  caminho local, mas vale a pena fazer uma visita, nem que seja uma vez só na vida!
Na aldeia de Drave sente-se algo diferente, porque é simplesmente um sítio que não é igual aos outros, porque é  mágico!!


 Agora faço muito gosto, que sigam estas duas viagens connosco, que foram realizadas no ano que passou, venham daí:

Passagem pela aldeia de Regoufe, sempre recheada de bicharada muito sociável!

Agora sim, o caminho está assinalado.
Regoufe está rodeada de campos, neste temos o centeio.
As minas de volfrâmio ao longe.
E lá começamos a subir.

Sempre a subir!
O percurso até à aldeia de Drave quase todo um descampado, aconselha-se o uso de chapéus ou lenços e muita água!
O cansaço começa a vencer,para os mais jovens e caloiros e ainda nem a meio vamos!

De vez em quando conseguimos ver o rio.

Falta pouco, estes pinheiros são o sinal que a aldeia está próxima!
As vistas do outro lado, nunca saturam o olhar!

E lá está ela!Olhem com atenção...
Aqui está mais próximo...já há sinais de terra moldada pelo homem.

Começa a ser mais fresco e verde!
Voilá
A capela destaca-se!




O nosso amigo a pintar a macaca!...ficou só pela fotografia!!

Humm! Está convidativo!

Miúdos e graúdos começam a preparar o molho!
E prontos! Não demorou muito!

E sabe tão bem!!
A  piscina começa a ser pequena para tanta gente!
Cuidado que há pessoal que se atira de cá de cima!
Depois de barriguinha cheia, toca a abalar que ainda vamos por outras paragens!

Já fora de Drave, parámos mais à frente numa sombrinha. O dia estava realmente muito quente!
E agora  fizemos um grande desvio, dirigismo-nos para baixo. Esta foi uma opção, que teve primeiro um reconhecimento do terreno, efectuado por alguns membros do CCP. Não faz parte do trilho demarcado até Drave. Tenho a dizer que embora fosse a descer, não foi muito fácil, é uma espécie de corta mato e o calor não ajudou.

Bora lá, é sempre a descer, não se percam sigam em fila!
Lá em baixo o rio...acho que vamos a outra banhoca!
Já se ouvem lá em baixo os primeiros que chegaram, estão numa euforia!
Nem acredito! Água! Estamos cheios de calor!

É mesmo espectacular! ficávamos sempre aqui!
Quem nos tira daqui?! Neste rio existem pequenos peixes que nos fazem  cócegas quando ficámos quietos, chegam a morder! Mas não dói!

Ai agora é que vão ser elas! É sempre, sempre a subir!
O rio cada vez mais longe, pena.


Não se percebe muito bem, mas ali vai o carreiro da frente, temos muito para andar!
A subida final é muito íngreme, e com calor ainda pior!!
As forças começam a faltar...o pessoal começa a ficar pelas beiras, não me lembro de nada parecido! Eu acompanhava a minha irmã que era uma caloira nestas coisas! Coitada! Quase que tinha uma coisinha má! Dei-lhe a água toda que tinha para não desidratar, eu cá já estou mais habituada, mesmo assim não a larguei um minuto. Desde então a rapariga não fez mais  trilhos! Também não tem muito tempo e a falta de vontade junta-se ao resto...ficou cá com um trauma! lol

Alguém ficou muito para trás, parece que  ficou com uma cãibra, mau sítio para cãibras, é preciso ter azar.
Já não estão todos aqui! alguns já se foram pois já era tarde!

Já fizemos alguns trilhos puxaditos, mas quando vem ao de cima o termo puxado, todos os que participaram neste dia falam logo de Drave! Fizemos um desvio bastante íngreme e o calor foi o factor principal da exaustão.
Para quem quer ir a Drave não tem de fazer desvio nenhum, é só ir e vir pelo mesmo caminho. Mais uma vez relembro, que a maior parte do percurso é descampado, se estiver sol não se esqueçam do chapéu e protector solar, e se estiver calor levem o dobro da água!!Não há fontes pelo caminho, só em Drave encontram uma torneira com a água. Ah! neste aspecto não há nada como o Gerês, tem água  em quase todos os locais!! Mais não seja a dos ribeiros cristalinos!