" Paz das montanhas, meu alívio certo! "

22/07/2012

Autonomia no Gerês 1º dia

 Gerês, 08 de Julho de 2012



Esta estrela de fogo que ilumina a Terra e despertou no meu corpo, ainda dorido da noite recente, lembrou-me o local onde me encontrava...


Um pequeno pássaro fazia-nos  companhia e a ele juntou-se uma brisa serrana muito leve e fresca beijando-me a face, parecendo-me que sussurrava ao meu ouvido "Bom dia,  Lírio!!"




Muito antes deste momento, encontrava-me em casa deitada no sofá, sem ânimo para regressar ao trabalho, parecia não aguentar mais. E nestas alturas, parecendo não haver mais nada que nos alegre a alma, eis que surge Orion segurando-me a mão e perguntando-me: "Vamos fazer uma coisa maluca? Vamos passar cinco dias, só nós dois, no Gerês?"

Cinco dias não eram demais?? Mas não podia ser!!

Mas os dois dias intensivamente vividos valeu por uma semana!!!











E cá estamos, como prometido!


Após passar na noite anterior por Sidrós - Ferral, para assistir ao espectáculo na ponte da Misarela, acordámos cheios de energia e com uma magnífica paisagem à nossa frente!! Arrumámos tudo, e cá vamos nós, o dia estava à nossa espera e prometia!!








Começando em Fafião, passando por terras de Pincães, calcorreamos as montanhas geresianas, quase incrédula por me encontrar ali e do que me esperava naqueles dois dias de pura harmonia entre minha alma e a terra mãe!!
 

Um bela borboleta veio dar-me as boas vindas e as montanhas sorriam  por entre um jogo de sombras projectadas das nuvens, estava tudo perfeito!!





















Precisava de paz, montanhas, exaustão física e alívio de espírito! De silêncio, solidão, ar puro, de água fresca e noites assustadoramente serenas! Para trás tudo ficou temporariamente...para a frente o carreiro a seguir, mochilas pesadas e pilhas a carregar!


O destino nesse dia seria  tranquilamente em direcção à lagoa do marinho.

Como ser livre que posso ser, nestas terras que acorda os poetas adormecidos, é meu desejo que vou adquirindo aos poucos, sentindo o suor a escorrer pela cara abaixo, as costas doridas e as pernas cansadas, a poeira  colada a meu corpo, é assim que consumo cada dia por estas terras em recompensa por um modo de estar na vida simples e sem muitas burocracias.


E lá estavam elas!!












Este é o pântano que se avista no Verão encontra-se quase sempre seco. Felizmente este ano, tivemos chuva nestes últimos dois meses, e água não falta nesta serra!










E a cabana de Penedã, construída pela gente de terras de  Cabril, adorada e estimada pelos  que por lá passam, lá se encontrava desta vez, com um adorno de boas vindas à porta!!!










Original ou bizarro?...Nada que não se enquadre por estes lados, muito pelo contrário!
Tem brinquinho e tudo!!














 
Entrámos na mesma, pousámos finalmente a "carga" e fui  de imediato beber umas das águas mais frescas e deliciosas da serra do Gerês, que abunda por estes currais!


...e não estávamos sozinhos, tínhamos companhia!







Orion foi dar uma volta, falou em subir aos Chamiçais mas antes passaria pela lagoa do Marinho. Eu fui vestir o meu fato de banho e iria aproveitar para tomar um banho no ribeiro de Couce sem que antes também fosse passear e limpar as cascas que alguém se esqueceu (?) de meter num saco.







Mas antes mesmo de sair para uma banhoca, de dentro da cabana ouvi vozes de alguém que se aproximava...fui até à porta e lá se encontrava um homem acompanhado de 3 adolescentes! Vinha mostrar as lagoas e a cabana aos miúdos! Ali ficaram retidos algum tempo, aproveitaram para comer qualquer coisa e para beber a água fresca que indiquei na fonte.Fiquei muito satisfeita por estar acompanhada de pequenos jovens apaixonados pela Natureza! Naquele momento Orion liga-me para o telemóvel, estava precisamente no topo dos Chamiçais, e  lá se via um pequeno ponto no cimo...parecendo acenar!
Pouco depois o homem e os três jovens tiveram que partir com grande pena minha, pois seriam uma companhia muito agradável, mas outra parte do grupo aguardavam pelos mesmos e parecia que ainda iam ver a grande lagoa.


E por falar em lagoa, aqui temos algumas fotos da mesma, da paisagem e os pormenores envolventes:
































Dirigi-me aos Cocões para tomar o prometido banho, cruzei-me com Orion que tinha acabado de descer dos Chamiçaiss e com ele trazia as fotos das paisagens para que todos possamos apreciar:



 
E  já no ribeiro de Couce deliciava-me com a água corrente que por lá passava e as suas refrescantes lagoas que se formavam aqui e ali, algumas delas em grandes lajes graníticas! Pena pois nessa altura esqueci-me da máquina na cabana e não registei...mas ficou-me a memória:)
E estava eu a saltitar de pedra em pedra toda satisfeita com tudo aquele espaço só para mim, sentindo-me uma autentica "Jane na Selva" quando ouvi umas vozes de timbre masculino a aproximarem-se.  Sem saber quem lá vinha, procurei afastar-me um pouco discretamente, acenando depois  e já lá ia um grupo de 4 homens a afastarem-se em direcção  da cabana onde tinha as coisa e onde Orion  estava. Pareciam ser gente da terra.Coloquei as calças e a camisola e dirigi-me à cabana também. 
E lá estavam  os homens e Orion a falar com eles!
Eram nem mais nem menos que dois habitantes de Pincães, um de Frades  e outro de S. Ane. Já tinham dado uma grande volta pela serra para ver como estava o gado e agora paravam um pouco ali para lanchar.

Bom, que podemos dizer? Muita coisa como podem imaginar!!  
Gente da terra é da melhor coisa que há para nós!! Aprendemos sempre muito com eles e são sempre companhias que nos deliciam com as suas expressões genuínas e o modo hospitaleiro com que nos recebem!!
Convidaram-nos para lanchar, oferecendo-nos o que tinham com muita persistência!Ficamos encantados com as suas histórias sobre a serra, sobre os seus pais e seus avós, sobre o tempo do contrabando, sobre o centeio que se cultivava antigamente na serra, dos burros que transportavam a carga,da cabana que penedã que construíram e ficamos a saber que foram eles que fizeram as enormes e belas mariolas que marcavam  trilho que iríamos fazer no dia seguinte! Há e mais quanto falaríamos nesse dia!! Os quatro homens no final fizeram questão que ficasse-mos com alguns miminhos do lanche, frango caseiro assado, bolinhos de bacalhau e uma garrafa de vinho, e mais queriam oferecer, agradecemos mas as nossas barrigas não permitiam entrar tanta coisa e as mochilas já estavam muito cheias, em troca podemos pelos menos compensar a hospitalidade e a partilha com fatias de bolo que tinha feito no dia anterior! Ainda ficaram um bom bocado de tempo retidos no curral já em pé e com tudo arrumado na carrinha, a conversar connosco, depois partiram deixando-nos  a cabana à vontade.  Foi um momento para nos relembrarmos sempre que passarmos por lá!

O céu já escurecia quando entramos na cabana, acendemos a fogueira na lareira, comemos uma salada  acompanhada dos bolinhos de bacalhau que  nos ofereceram e brindámos o momento com o vinho que nos deixaram!  Simplesmente divinal!!


Deitámo-nos  e adormecemos como duas crianças cansadas de tanta brincadeira! O dia seguinte será relatado no próximo capítulo, até lá!!













11/07/2012

Ponte da Misarela

       Realizou-se no passado dia 7 de Julho, em Sidrós, Ferral, Montalegre as representações das lendas "Ponte do diabo" e "O baptismo" na ponte da Misarela. Publicamos algumas fotos do evento e deixamos os nossos parabéns  à organização do evento e  ao grupo de teatro pelas representações.











Quadrilha - Ponte da Misarela




Letra de Sérgio Antunes

Levanta-se a mulher noite calada,
Como se a manhã já estivesse a chegar.
Vai a ver dos auxílios do azeite,
Já tem mais de mil quebrantos p'ra rezar.

Não se tem prenha por nada, não se alegra;
Já não sei que mais lhe eu faça p'ra a alegrar;
O diabo é que a barriga não lhe medra
De tão triste que ela anda, já se anda a desesperar.

/refrão/
E quando vier a noite escura
Havemos de ir os dois à Misarela
Que o menino venha breve, são e salvo
E que ninguém tenha pragas p'ra lhe rogar
E que a desgraça não nos entre casa dentro:
Cruzes, credo, nem por nada!
E que se acabe o mal que nós temos passado
E que haja alguém que lá passe p'ró baptizar
E que o remédio seja santo
Quando formos à ponte da Misarela.
/refrão/

Mal a noite caia pelos penedos
Vamos lá mas não o contes a ninguém!
Havemos de esperar um viajeiro
Que nos baptize o menino ainda na mãe;

Se for moça há-de chamar-se Senhorinha
Se for homem o nome há-de ser Gervaz
Tantas vezes me endoidei no corpo dela
Hoje vou à Misarela, já nem hei-de olhar p'ra trás!
/refrão

Os nossos agradecimentos ao José Carlos Callixto, do blog por Fragas e Pragas por recordar-nos a boa música tradicional portuguesa que ainda se faz.

Lobo-ibérico foi devolvido à liberdade

Dando seguimento à notícia do lobo ibérico, ferido há dois meses numa armadilha ilegal, recolhido pela GNR, em Meixedo, ver publicação  e  posteriormente  tratado da pata amputada no Hospital Veterinário da Universidade de Vila Real, ver publicação. É com grande prazer que noticiamos que num caso inédito de conservação em Portugal, o jovem lobo-ibérico foi devolvido à natureza, no concelho de Montalegre. A adaptação deste animal, com uma pata amputada, está a ser acompanhada graças a uma coleira GPS.

O lobo-ibérico – de uma espécie protegida e que se estima estar reduzido a cerca de 300 animais e 60 alcateias – foi tratado com um contacto mínimo com as pessoas. Segundo disse à agência Lusa José Paulo Pires, director-adjunto do Departamento de Gestão de Áreas Classificadas – Norte, do ICNB, o lobo revelou ter tido uma boa recuperação clínica da lesão que sofreu, fez uma boa cicatrização, aumentou de peso, ganhou robustez e manteve a sua agilidade. “Concluiu-se que estaria em condições de sobreviver autonomamente e optou-se pela sua libertação”, salientou o responsável.

O animal foi restituído à natureza na quinta-feira passada, com uma coleira GPS. “Já é possível saber que ele andou alguns quilómetros, mas ainda não é muito significativo porque ele, neste momento, está numa fase de explorar e reconhecer o território”, salientou José Paulo Pires. 

“A ideia é que se junte ao resto da alcateia. Ainda anteontem vimos alguns lobos, mas não sabemos se serão da mesma alcateia”, disse o veterinário Domingos Moura. “Contrariamente ao que acontecia há 30 ou 40 anos, a reacção das populações locais está a ser óptima”, considera. “Pensando que seria eu a restituir o animal à liberdade, diziam-me para eu fazer o que pudesse para ajudá-lo, para não olhar a meios. Só me pediam uma coisa: ‘quando o libertar, liberte-o longe dos meus rebanhos’”.

Esta mudança de mentalidades tem uma explicação, disse. “Quando havia muitos lobos, não haviam javalis nem raposas. Hoje, os lobos praticamente desapareceram", sendo mesmo uma espécie classificada como Em Perigo, pelo Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal. "Os agricultores queixam-se do aumento exponencial do número de javalis, que destroem os campos de milhos, os lameiros, tudo". E as raposas destroem as perdizes e os coelhos-bravos, “que quase não há nenhuns por aqui”. “Reconhecem que, afinal, o lobo lhes faz falta.”

Fontes: Ecosfera

02/07/2012

Em busca de lírios








Num destes dias partimos na esperança de encontrar algo diferente e muito peculiar.
A ânsia de ver uma das flores mais especiais das montanhas geresianas, latejava há muito nas minhas veias recheadas de emoções.









Passámos por pousada na esperança de ver a Vezeira de Fafião e lá estava o Sr. Domingos da Laja!
Fomos ter com ele satisfeitos, com aquele encontro e agradável momento de conversa, sempre com histórias e vivências muito próprias de quem conhece estas terras desde pequeno.







Capaz era de passar ali o dia todo, mas este para este dia já estava traçado outro objectivo. Partimos ainda com o pequeno cachorro do vezeireiro a saltitar, em toque de desafio, para a brincadeira, desafiando-nos a ficar mais um pouco pelo curral.







Estava um dia quente , bebemos muita água, felizmente a serra estava recheada dela graças às chuvadas mais recentes, os ribeiros e fontes brotavam vida líquida com abundância!


O feno cobria grandes áreas da terra, as flores do serpão já davam ares da sua graça, as crisálidas eram abundantes, alguns lameiros cobertos de bolas de algodão e pequenos grupos de orvalhinhas reluziam ao sol!! A erva estava muito verde e viçosa, os animais de pequeno porte tais como os grilos e as rãs davam sinais da sua presença, a serra do Gerês estava neste dia no seu máximo esplendor!!
Bolas de algodão
Orvalhinhas





E até os bichinhos gostam...

Mas faltava ainda o toque final da cereja no bolo, mais precisamente os lírios na serra, estávamos na altura deles, era agora ou para o ano!
Como sabemos o clima tem andado um pouco trocado, e a hipótese de já não os encontrarmos não saía da minha mente!


Fomos ao mesmo local onde Orion conseguiu ver muitos no ano  passado. Pousámos as mochilas e percorremos a encosta banhada de sol. Todas as flores pareciam lá estar, procurávamos a cor lilás típica destes belos lírios.
A dada altura os pequenos pontos azuis já me pareciam roxos, a visão pregava-me partidas de tanto era o desejo de os ver...as pedras brancas reflectiam muita luz e o que meus olhos desejavam ver, de nada viam!

O desânimo começava a tomar conta de mim e Orion não perdendo a esperança comentava que por ali havia muitos no ano passado, mas agora...
Recusava-me a aceitar tal desengano quase me puxando para trás e a obrigar-me a desistir. Dirigi-me a uma zona com mais mato na esperança de encontrar algum por lá escondido e aqui sim, conformada ao meu desalento nesse dia voltando para trás abanando a cabeça.
De repente ouço Orion a clamar " Está aqui um!!", foi como se algo nascesse naquele momento! Desatei a correr na direcção de Orion tropeçando pelas pedras daquela abençoada encosta.
 E lá estava ele!! O nomeado e célebre Lírio do Gerês!!!

Lírio do Gerês (Espécie autóctone, protegida por lei )











Ali ficámos retidos imenso tempo a contemplar aquele ser tão frágil e gracioso troféu da Natureza, muito mais que uma cereja no bolo, diria um bolo recheado de cerejas :)
E como se aquele ser fosse único na terra quase em vias de extinção, não conseguia sair do seu pé com metade do meu corpo debruçado sobre o solo montanhoso e quente, observava todos os ângulos possíveis e todos os centímetros daquela deslumbrante flor, levando Orion a desistir de a fotografar sempre com um emplastro de volta da mesma!












E se não fosse eu naquele momento quase um parasita, e se Orion não se desloca-se dali deixando-me a venerar o deus daquela encosta...não ouviria mais exclamações " Esta aqui outro!"








Ah! foi quase como uma brincadeira entre duas crianças, um jogo titulado "Em busca dos Lírios" e a ver quantos conseguíamos encontrar! Uma dúzia deles e poucos mais!!
Imensas fotografias, largos minutos a apreciar cada pormenor, todos iguais e todos diferentes.
Orion já dizia para subirmos, mas eu descia cada vez mais exclamando mais ali um e dois e mais outro! E não havia nada que me fizesse arredar pés dali :)















Por fim lá subimos a encosta em direcção às mochilas e descansámos na pequena sombra de rochas. Ufa! Isto de encontrar lírios tem que se lhe diga!Mas valeu por muitas barras de ouro!

Ainda andámos bastante nesse dia e percorremos ao todo 14 currais da serra, não sei quantos ribeiros e imensas flores, quanto a lírios só mesmo ali, nada mais.

"Arroz dos telhados"
Zimbro
Satirão macho - Dactilorhiza maculata




























Camomila



Valeu aquele raro e inestimável momento mágico, dedico a todos mais uma imagem do mesmo:

LÍRIO DO GERÊS